segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Saudades-Perpétuas (12/07/2008)

Chorando, as lembranças surgiam,
Sem medo, no meio da escuridão!
Suavemente teus lábios gemiam...
Sussurros na minha solidão...

Tudo o que fui sinto assim morrer!
Ilusões que balançam cadafalsos!
Delírios d’almas por ti querer!
Sonhos que sonhando passo!

As brumas amortalham teu corpo frio,
E tornam os delírios mais dementes!
Acorrentados anseios trazem o vazio,
E levam o que não foi para sempre!


Os fantasmas, à noite, aparecem,
E melancólicos, fustigam a solidão!
Quantos sonhos por ti fenecem?!
Quantos escorrem pelas mãos?!

(® P.O.Velásquez)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

É a Vida...

Chegamos assim, de mansinho e, devagarzinho vamos crescendo, vamos levando, vamos vivendo. Em certos períodos, é aquele sufoco que parece não ter mais fim, então, as lágrimas vêm e juntas, passam a inquirir: Para onde vamos? A estação se aproxima. Desceremos ou seguiremos adiante?
Nesses momentos, um sorriso indelével flutua no espaço e intocável - como o são todos os sorrisos -, desfaz nossos mais íntimos sonhos. Quando procuramos decifrá-lo, desaparece no ar, deixando em nós uma angustiante sensação de “déja vu”. E nisso, não sabemos se fomos ou não. Se já não passamos por ali em outros tempos. Impossível dizer se estamos dormindo ou sonhando acordados.
Somos assim, duas metades da mesma moeda. O amor e a razão. Lados opostos, porém, interligados num mesmo universo. A loucura dentro da razão! Não nos importa aonde chegar, tanto faz o caminho que tomarmos. A direção não interessa, o que importa em si é que sempre chegaremos a algum lugar.
É esse o sentido da vida? Buscar um final feliz ou viver da melhor maneira possível cada segundo acabado ou inacabado, como se ela fosse terminar abruptamente? A resposta está lá, no fim do túnel, mas quem garante que quando lá chegarmos, nós encontrará a tão auspiciosa luz?
Há de vivermos intensamente, bem o mal, mas vivermos. Sentirmos o prazer que é a vida. O êxtase de se viver com todos os sentidos completos! O agora é aqui, neste momento, o passado, não volta mais, o futuro não nos pertence, porém, o presente, este sim, é nosso! Podemos dispor dele como bem o entendermos, usufruí-lo sem medo ou restrições porque não sabemos o que pode acontecer no movimento seguinte da grande engrenagem que rege nossas vidas.
Diante das nossas vicissitudes, vão-se os dias numa melancolia infinda. Levam consigo nossas ansiedades, nossas desilusões, nossos sonhos e, em tudo isso, o que era nunca o foi e o que foi, nunca o tivemos.
À noite, um imenso vazio invade os recônditos mais secretos da nossa alma, e ela, que tanto procuramos resguardar das palavras desencontradas que ouvimos, sucumbe nos passos perdidos que nunca seguimos ou nas carícias trocadas que nunca esquecemos. E assim, a vida continua sua insofismável rotina e nós, escravos que somos dos seus caprichos, seguimos procurando vivê-la da melhor maneira possível...

(P.O.Veslázquez - 26/10/2008)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Rowena

Um flébil sino badalava no cimo da catedral. Impassível, apenas o silêncio respondia ao seu apelo.
Lá embaixo, passos longos e descarnados ecoavam na calçada da praça. Era ela.
Num segundo, estava à sua frente, mas, não me viu. Indiferente, cruzou comigo e nem sentiu minha presença. Seguiu num passo vacilante por entre as vielas mal iluminadas de Bucareste.
Os sonhos não eram mais os mesmos, tinham se perdidos no meio do caminho. Parou e olhou furtivamente para os lados, não viu ninguém, então, suas mãos remexeram nervosas dentro da bolsa. Procurou algo e o encontrou. Era um cachimbo. Por um momento, hesitou, mas seguiu em frente e o acendeu, e num pequeno estalo, junto à ingenuidade tênue, a fumaça sorvida lentamente esvaiu-se dentro da sua cabeça. Seus lábios se contraíram num meio sorriso nervoso. O coração acelerou. A temperatura do corpo subiu. A sensação de euforia foi momentânea. Em pequenas gotas, o sangue lhe escorreu pelos lábios e se misturou ao batom vermelho, todo borrado.
Tentou sorrir, mas o sorriso se transformou numa careta horrível. Era, em si, uma caricatura, pensou. Então, se lembrou da época em que fora feliz. Sim! Nessa época, os sonhos sobrepujavam a realidade e sonhar era natural. E ela sonhara! Por Deus, como sonhara! Eram sonhos tão vivos! Sonhos refletidos num olhar intenso e brilhante, porém, até os sonhos mais intensos morrem, ou se perdem com o tempo. Balançando a cabeça, afastou as lembranças, cabisbaixa.
De longe, eu a observei, e me surpreendi. Fitei seus olhos e vi que seu olhar não era mais como aquele de antigamente, não! O olhar que vi agora ia morto! Ia turvo num caminho sem volta!
Começou a chover. Em gotas cristalinas, a chuva misturou-se a solidão que lhe ia esquecida nos escaninhos de uma existência vazia. Agora vivia no limiar da loucura.
Vi-lhe a feição indefinida, ir assim, envelhecida pelo tempo que não lhe pertencia mais. Não podia dispor do tempo de outrora e não possuía mais o tempo de agora, daí se entregava às vicissitudes da vida.
Seguiu entorpecida, alheia aos acontecimentos, de volta a catedral. Sua tez era pálida. Seu olhar, apático. Um quê de desilusão surgiu nos seus olhos cansados.
Em passos vacilantes subiu até o alto da catedral, e observou a praça, lá embaixo, e por um momento ficou ali, parada, olhando vagamente, sem nada dizer.
Esse fora o caminho que escolhera. Essa fora a única saída que encontrara para si, então, lhe tocando ternamente a fronte, cingi-lhe o corpo, suavemente. Assim, abraçados, saltamos para o nada! E tudo se acabou...

(P.O.Velásquez – 26/10/2008)

As Mulheres

"(...)A verdade, quando não ofende, tem algo de ingênuo que agrada; e foi somente aos loucos que os deuses concederam o dom de a dizer sem ofensa e(...)as mulhres, tão naturalmente inclinadas para os prazeres e a futilidade, gostam muitíssimo dos loucos e(...)as mulhres são tão engenhosas quando se trata de pintar com lindas cores as suas tolices!(...)

O ELOGIO DA LOUCURA
Erasmo de Roterdã
1508

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um dia... Um adeus...

Nem percebemos quando terminou. Só soubemos que acabou quando deixamos de fazer as coisas juntas, de pensar um no outro, enfim, de nos procurar. As horas começaram, então, a passar mais lentas, sem pressa. Não como antes! Não! Antes elas voavam ligeiras, iam céleres por segundos! Perdiam-se no afagar dos carinhos, nos beijos trocados as escondidas ou à luz clara do dia, na frente dos amigos ou inimigos. Nada importava naqueles sôfregos momentos! Quando nos dávamos conta, o tempo já tinha passado, e aí, pedíamos mais! Queríamos sempre mais, e mais e mais ainda! Não nos cansávamos, só queríamos mais uns minutinhos, era tudo o que a gente pedia, não obstante, tínhamos que nos contentar com o que fora dado, para, no dia seguinte, recebermos mais do mesmo.
Entretanto, o tempo foi passando, e a gente, ficando...
Muitos não conseguiram alcançar a tão desejada felicidade, desistiram de lutar, morreram, ou ficaram pelo meio do caminho, jogados nos cantos da vida, outros, conseguiram seguir adiante, mas arrefeceram com o tempo. Só uns poucos, bem poucos mesmo – separados é bem verdade -, conseguiram se eternizar e amadurecer na compreensão e na liberdade existente em si.
Outros passaram a nossa frente de relance, num atônito olhar. Deixaram suas marcas indeléveis gravadas nos nossos mais secretos desejos. Deixaram as coisas ardendo dentro do peito, lá dentro da alma! Não era preciso a gente tocar. Só tínhamos apenas que deixar a imaginação voar, e pronto, estávamos felizes. Numa festa, no shopping, no trabalho, sempre percebíamos aquele olhar esgazeado. Era fulminante na sua compreensão e agrado. Muitas vezes, desviávamos sem nos dar chance de arriscar, noutras, fixávamos os olhos e nos deixávamos levar pelos devaneios de uma admiração ou paixão.
Naquela época, os abraços estavam sempre prontos a nos acalentar quando sentíamos medo. Foram muitas as decepções nessa vida. Mas também tivemos bons momentos juntos, quando a gente ria pelo simples prazer de estar junto ao outro. As pessoas que nos olhavam, não entediam a nossa alegria, porém, porém, nós sabíamos o motivo. É que vivíamos com sorrisos abertos em palavras de carinhos e o que era mais importante nisso tudo, é que essas palavras estavam presas à fidelidade de uma convivência feliz, de um ouvir calado e de um falar sensato.
Mas isso foi há muito tempo, não foi? Desde então, as coisas mudaram. Os sonhos não se realizaram. O amor terminou. E aí, a gente cresceu, depois casou, descasou e casou novamente, e seguimos em frente - bem o mal -, com aquele ar cansado e melancólico pairando por sobre nossas mais solitárias noites.

(P.O.Velásquez - 30/11/08)

O Que é a Vida?

“(...)Ora, o que é a vida? Uma espécie de constante comédia, onde os homens, disfarçados de mil modos diferentes, aparecem em cena, e desempenham o seu papel(...)Na verdade, este mundo nada mais é que uma sombra passageira, mas é essa a comédia que nele se representa todos os dias(...)”

O ELOGIO DA LOUCURA
Erasmo de Roterdã

1508

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Essas Gentes Urbanas

Essas gentes das cidades grandes passam por mim tranquilamente, e alheias a tudo, vão caminhando nas suas calçadas, imersas nas suas covardias, nos seus medos, nas suas mesquinhez, nas suas avarezas!
Não olham nem vêem nada. Simplesmente seguem sem ir nem vir. Ou se vão, não sabem aonde, e se voltam, não sabem de onde.
Não vivem. Seria melhor dizer que vegetam, sim, mas não o vegetar dessas árvores prenhes da natureza, não! Estas, apesar de estarem plantadas, ligadas a terra, muito se desenvolvem com força, enquanto essas gentes, elas vivem sem ânimo, sem interesse objetivo ou subjetivo, a não ser o de subirem o mais alto possível na vida, mas, para que? Para no final se atirarem dos seus arranha-céus para o nada? Talvez...
Essas gentes vivem à sombra de outras gentes mais poderosas! Essa a condição dessas gentes urbanas, não todas, que toda regra tem sua exceção, mas a maioria é assim! A maioria quer a glória do poder e isso a qualquer preço! E o preço cobrado é muito alto, tanto quanto a altura dos seus edifícios! E ainda tem a queda, e tudo o quanto essas gentes não sabem, é que a queda também pode ser bastante alta, tal como a queda abstinentemente vertiginosa da bolsa numa segunda-feira de “crack”.
Essas gentes urbanas assistem aos últimos lançamentos do cinema nas suas televisões de plasma liquefeito, e vêem o que ainda não viram as outras gentes, e divertem-se solitárias consigo mesmas, dentro da segurança dos seus cinzentos apartamentos de mil metros quadrados, e depois, partem satisfeitos para o “happy hour”, e comentam com os amigos o que não entenderam e sorriem nas suas digressões mais mesquinhas, saídas das páginas da edição mais atualizada da “Vanity Fair”, só para dizer que estão ligadas as recentes notícias de um mundo mais urbano.
E quando o celular começa a tocar, sacam à última palavra em tecnologia, a última geração que já finda, e começam a falar, falar e falar, e com dedos obtusos vão teclando números complexos nas teclas inefáveis do aparelho já tão extenuado pela mortandade das palavras que é obrigado a transmitir na futilidade dessas conversas vazias.
Essa gentes vão num lutar frenético, num passar circunflexo, num “sobre-toque” amplexo, tanto faz, são indiferentes uns aos outros, só enxergam os seus próprios umbigos, alguns rechonchudos, é bem certo, quando não, “lipoaspirados”.
E quando obrigadas pelo tempo ou pela situação que criaram se “compromentem” com seus pares a se internarem em clínicas de reabilitação dissimuladas, a fim de tratar das suas dependências cínicas, das suas cleptomanias frígidas (cadê minha carteira?), das suas obesidades flácidas, e o médico os atende sorridente – tem que sorrir mesmo, afinal, tem muito dinheiro envolvido -, e essas gentes pagam os olhos da cara (plastificada, é bem verdade. - Doutor tem uma ruga aqui, olha!) para mostrarem que está tudo bem, quando na calada da noite, ou do dia -como queiram -, voltam a fazer tudo de novo e de novo e de novo!
Essas gentes urbanas são assim...

(P.O.Velásquez - 06/02/09)

Contemplai Essa Gente

"(...)Contemplai essa gente magra, triste e rabugenta(...)a sua alma incessantemente agitada(...)influi no seu temperamento; vai-se-lhes o espírito, vai-se-lhes a seiva, e geralmente envelhecem, ser ter sido jovens(...)"

O ELOGIO DA LOUCURA
Erasmo de Roterdã
1508

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mhjkahela

Estava lá, parada, olhava as águas agitadas do Amazonas que num indômito balançar, respingava gotas translúcidas em quem vinha beijar.
Os raios refulgiam no céu enegrecido de agosto! Um relâmpago riscava distante, e além-mais, outro!
A chuva caía e entre lágrimas de pesar vinha lhe fustigar o rosto.
Seu olhar, perdido no horizonte, seguia sereno um barquinho pequeno.
Vergastavam rebeldes, no cimo das ondas, brancas velas, enquanto, do infinito à imensidão ia e vinha seu olhar balançando na tempestuosa solidão!
No crepúsculo, a tarde se extinguia na minha saudade...
Um vento frio soprava agitado e afoito. Esvoaçava loucamente seu negro cabelo revolto, e ela, tentando afastá-lo do rosto, deixava-o solto, ao sabor do vento que soprava impetuoso!
Nesses momentos, eram como duas crianças a brincar, ora o vento vinha suave seu rosto roçar, ora fugia e sua boca umedecia e na friagem da noite queria seus lábios beijar.
Eu a observava brincar em tantos desejos secretos, em tantos beijos discretos que às águas deixava levar...
Queria ser do seu beijo mais tépido, a água-viva, a rebeldia! O beijo que nunca arrefecia! A sensualidade que soprava do mar!
Queria ser - do amor que não encontrava -, o sorriso que procurava!
O eterno sonho de amar...

(P.O.Velásquez - 26/10/2008)

As Artes

“(...)Mas, para falarmos um pouco das(...)artes, não é a sede da glória que excita os homens a inventar e transmitir à posteridade todas essas artes(...)Enfim, à loucura é que vós deveis os principais prazeres da vida, e com isso tendes a doce alegria de desfrutar da loucura alheia(...)

O ELOGIO DA LOUCURA
Erasmo de Roterdã
1508

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Destino...

tínhamos nos encontrados tantas vezes, e tantas mais eu a avisara sobre o que poderia acontecer. Sempre a deixara decidir o que queria, principalmente, no que se referia ao amor, lhe dizendo ainda, que cupido vivia pregando peças nos corações das pessoas. Isso tudo eu pensava enquanto a observava, talvez fosse esta a última vez que a veria, ou, bem, talvez não.
A vida é um jogo, dissera-lhe certa vez, e das cartas que tinham sido distribuídas na sua vida, ela tinha a melhor mão, e lhe caberia sempre, fazer a primeira jogada, então, as engrenagens se moveriam no seu universo. Eu me contentava com a que tinha ganhado, sempre fora assim, porém...
Do outro lado da mesa, uma silenciosa Senhora observava calmamente, os acontecimentos. Para ela, tanto fazia, poderia levá-la agora ou depois, nunca se importou com isso, era parte do “ofício”. Estaria lá, sempre! Esperando o momento certo a fim de acompanhá-la para o outro lado da vida, daí sua serenidade. O que lhe interessava naquilo tudo era saber como eu enganaria o livre arbítrio de Isabelle, esse o seu interesse, por isso ficava observando, enquanto ela caminhava perdida em pensamentos.
Fiz-lhe ver a noite calma e a lua, que cintilava toda cheia, iluminando o bondinho que seguia na direção do mirante, no final cais. Um raio de luz lhe clareou o rosto e o vento soprou, todo especial, afagando-lhe os cabelos carinhosamente. Isabelle então, ficou parada, no fim do ancoradouro. Olhou a vastidão do mar e não viu nada, apenas o vazio, o que lhe doía na alma.
Uma lágrima, após outra, rolou dos seus olhos castanhos, lhe borrando a maquiagem no rosto perfeito. Tentou, em vão, enxugá-las, mas elas caiam cada vez mais, embaçando seu olhar. Os soluços foram muitos, por longos minutos, mas depois definharam, até que pararam de vez. Olhou para a escuridão do mar e aquele ar de tristeza que eu já muito vira em outros olhares, ficou balançando na frente dos seus olhos. Fiz-lhe então, rapidamente, pensar num tempo passado. Num tempo que tudo tinha dado certo. Num tempo em que fora feliz...
Como lhe dissera, tudo passa, assim como os bons e os maus momentos, porém, aqueles, ficam guardados na lembrança, e com o tempo, sem que as pessoas percebam, vão-se esquecidos nas suas existências. No entanto, os que magoam estes sim, ficam gravados no fundo da alma e, ao menor contato, machucam e quase nunca cicatrizam. Com estes, as pessoas têm que aprender a conviver.
O tempo passava, então, gritei para que me ajudasse, mas ele, como sempre, não ouviu meu apelo, e seguiu seu insofismável caminho, passando lento para uns, rápidos para outros e terminando para Isabelle...
Continuei lhe segredando no ouvido. Lembrei-lhe da época em que conheceu o amor, naquele dia sentiu que lhe faltava ar, que as palavras não lhe saiam da boca, e não saíram mesmo! Ficou calada, quando a amiga lhe apresentou a ele, não articulou nenhuma frase, apenas um “oi”, e isso bem baixinho. Seu coração bateu acelerado. Estava apaixonada. Cupido dissera que a faria ficar assim, “nas alturas”. Não mentiu. Foi assim mesmo que aconteceu, amor à primeira vista. Ficou “flutuando nas nuvens!”. Logo depois, começaram a sair juntos, e para iniciarem um namoro, foi um passo. Tudo isso eu a fazia ver. Os momentos de amizade, de ternura, de carinho. O amor pelo qual passou.
Fazia as lembranças surgirem vívidas à sua frente. Eram suas aquelas lembranças, na qual se deixara levar pelo encanto do contato sensual dos corpos entrelaçados. Dos beijos que foram trocados em frêmitos de prazer. Eu percebi que ela estremecia com essas lembranças. Não tinha se esquecido dos beijos cálidos, nem das carícias trocadas. Seu corpo lânguido, na cama deitado, sendo amado com paixão, até atingir o clímax da entrega total, do desfalecimento da alma. Tudo isso eu a fazia ver, mas insistia em seguir adiante.
Mostrei-lhe, também, o outro lado. Onde o amor deixou marcas. Fiz-lhe ver as cicatrizes que estavam abertas, os problemas não resolvidos que ainda lhe consumiam a alma. Logo no início, tudo fora feito a dois. Andavam sempre juntos, depois de anos, tudo começou a mudar, ele começou a querer ficar mais sozinho e ela passou a ficar mais possessiva. Não tinham mais tempo para si. As ligações começaram a rarear e, em seguida, o celular não emitiu mais sinal, ficou mudo para sempre. A vida era assim, sussurrei-lhe baixinho, ganhar e perder. É da natureza humana a eterna luta entre querer e poder. São desejos que deviam ser dominados, ainda mais quando termina com os sonhos que poderiam ter sido, mas que não foram.
As recordações eram amargas, como bem lhe dissera. Mas não acreditou. Então descortinei à sua frente, como se entregou de corpo e alma àquela relação. Como ofereceu tudo de si, e o que recebeu em troca? Nada! Como foi suficientemente forte para deixar-se livre, tanto quanto o deixou, e adiantou alguma coisa? Não. Então, como pôde acreditar? Eu bem que a avisara. Não me deu ouvidos. Não quis saber. Muitas vezes, o amor termina sem quê, nem por que, e o que resta? Apenas saudades. E, de todas, as mais dolorosas são as que ficam!
Deixei-a com suas duas opções, a decisão estava em suas mãos, era escolher a que queria. Fiquei observando Isabelle se aproximar e transpor a grade de proteção do cais. Lá embaixo, as águas do mar bramiam furiosas. As pedras surgiam pontiagudas por entre as ondas que quebravam agitadas. Ia se atirar. A Velha Senhora sorriu triunfante. Eu balancei a cabeça, decepcionado. Eu a tinha feito ver tudo pelo que passou. Os bons e os maus momentos, para que decidisse viver, e o que encontrei no final? A Morte sorrindo para mim! Porém, e aqui cabe um aviso, tudo tem um sentido na vida e as coisas parecem não ser o que são. Na realidade, Eu, e somente Eu, poderia ludibriar sua vontade de morrer. Sim! São nesses momentos que as coisas acontecem! Que o Destino interfere! E ali, quando estava prestes a pular, fiz com que o vento, que soprava mansamente, numa lufada tão forte, lhe arrebatasse o salto no ar, lançando-lhe no chão do cais, desacordada, e, naqueles segundos de semiconsciência, sussurrei no seu ouvido, “calma, menina, você ainda tem muito que sonhar”.
De soslaio, pude observar Ele sorrir e com uma leve inclinação da cabeça, concordar com que tinha feito, pois, como dissera, às vezes, o Destino “dá uma mãozinha”,
A Senhora de Negro ficou perturbada com a minha decisão, e tentou esboçar uma reação, dizendo que o Eu não poderia interferir em nada, pois, Ele não me delegara poderes para isso. Sorrindo, fiz-lhe calar. Expliquei-lhe que - a Ela -, sempre coubera observar o desenrolar dos acontecimentos, impassível. Não poderia intervir em nada, apenas levar o que era seu.
Quanto a Mim – isso Ele deixara bem claro -, desde os tempos antigos, que me fora facultado o poder de interferir e mudar os acontecimentos se assim o achasse conveniente, isso ela não sabia, mesmo que o resultado fosse grande, para mais ou para menos. Esse o meu trunfo, nas horas decisivas. E na vida de Isabelle, sabia que aquele ato de loucura que estava cometendo, era tão somente o resultado de amor-próprio ferido, então naquele momento, decidi dar-lhe uma segunda chance.
Que vivesse, era isso que queria!
Quando olho agora para Isabelle, vejo que aquele gesto que fiz foi ínfimo perto do que hoje é sua vida.
Sei que está feliz!
Encontrou, enfim, o seu destino...

(® P.O.Velásquez - 12/01/2009)

Companheiras e Sequazes

“(...)Nascida em tão esplêndido recanto, não foi o meu nascimento anunciado por lágrimas. Desde o primeiro instante, sorri graciosamente.(...)porque as duas ninfas mais graciosas do mundo Mete, a Ebriedade, filha de Baco, e Apédia, a Ignorância, filha de Pã, me deram o seio. Podeis vê-las aqui, entre minhas companheiras e sequazes.
A propósito, porém, das minhas sequazes, convém que eu vo-las apresente. A que vos contempla com arrogância é o Amor-próprio. A que possui rosto gracioso e mãos prontas para aplausos é a Adulação. Aqui vedes a deusa do Esquecimento, que se abandona ao sono e parece já dormir. Mais longe, a Preguiça cruza os braços e se apóia nos cotovelos. Não reconheceis a Volúpia, com as suas grinaldas, as suas coroas de rosas, e as deliciosas essências que a perfumam? Não vedes uma que por toda parte lança olhares impudentes e dúbios? É a Demência. Essa outra, de pele luzente, corpo volumosos, gordo, é a deusa das Delícias.(...)Com o auxílio de tão fiéis servidores é que submeto ao meu domínio tudo quanto existe no universo, com eles é que governo os que governam o mundo.(...)”

O ELOGIO DA LOUCURA
Erasmo de Roterdã
1508

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ninfa das Sombras

Por que foges de mim,
Por entre as sombras que mais são de ti misteriosas?
Por que vives assim
Como lembranças mortas
Pelos meus mais íntimos sonhos a vagar?
Por que escondes de mimEntres sussurros melancólicos de quem goza
Toda tua inocente vontade de amar?
Por que deitas lânguida e suave em formas nuas te desejo?
Por que nos pesadelos diluídos em lágrimas de pesar
Tu finges sorrir quando queres chorar?
Por que abandonas tua eterna morada
E te insinuas silenciosa em ardentes beijos
Sufocando todo teu amor velado corpo traiçoeiro sobre o meu?
Por que provocas com ardentes carícias
Amargas lembranças que tento em vão te esquecer?
Não sabes que vivendo assim, entre os mais tristes pesadelos meus,
Fazes com que nas incertezas descarnadas do sonhar
Eu seja um pálido rascunho que fica a vagar
Pelos caminhos inefáveis do teu corpo perfumado
Que tu bens cálida numa ilusão seminua tens mostrado,
Enquanto ruflas tuas brancas asas de anjo sagrado
E voas para longe de quem tem ensinou a amar?
Por que desfazes meus sonhos mais secretos desejos de te ver
Quando insatisfeita te abandonas entre soluços de dor e de prazer?
Por que na escuridão que esconde teu muito sofrer
Sempre ouço teu diáfano e triste canto
Quando angustiado sinto vontade de morrer?
Por que abandonas meu corpo no meio dessas ilusões perdidas
Que muito te expiam o delicado corpo sem vida?
Por que finges que me ama,
Ninfa das sombras desses ingênuos desenganos?
Por que me fazes sofrer tanto?

(® P. O. Velásquez - 26/11/94)

O Fim...

todos trazemos um pouco da loucura dentro da gente e gestos que para nós, são naturais muitas vezes o são irracionais para os outros,

ou como,

FALA A LOUCURA

“Digam de mim tudo quanto queiram (pois não ignoro como difamam a loucura até os que mais são loucos), eu, eu somente é que, pela minha influência divina, mergulho na alegria deuses e homens.(...)Sabereis por que à vossa presença compareço hoje em vestes tão esquisitas, se vos não cansardes de me ouvir. Não penseis, porém, que vós exijo a atenção com a qual honrais habitualmente os vossos pregadores. Não! Escutai-me como escutais os bufões,(...)os charlatães, os bobos das praças públicas(...)Serei sofista convosco, mas não falarei como os pedantes que hoje sobrecarregam a mente infantil de um sem número de ninharia(...)Portanto, eu(...)quero fazer um elogio, o ELOGIO DA LOUCURA.(...)obedeço ao provérbio: SE NÃO TENS QUEM TE ELOGIA, É BOM QUE TE ELOGIES A TI PRÓPRIO.(...)Sou, pois, como vedes, a verdadeira distribuidora de bens, a Loucura a que chamam os latinos STULTITIA, e os gregos MORIA. Mas que necessidade havia de vo-lo Dizer? Não me torna conhecidíssima minha fisionomia?(...)Em mim não pode haver fingimento nem dissimulação, e o meu rosto jamais reflete sentimento que não esteja no coração. Enfim, por toda parte, sou tão parecida a mim mesma que ninguém poderia ocultar-me, nem os que querem passar por sábios e por tais desejam ser tidos.(...)agora, portanto, ouvintes bem...como direi? Ouvintes bem loucos?...Por quê não? É o título mais honroso que a Loucura pode dar aos seus iniciados. Pois bem, ouvintes bem loucos, já sabeis, por fim, o meu nome(...)”

O ELOGIO DA LOUCURA
À Tomás More,
em 10 de junho de 1508.
Erasmo de Roterdã


então, caríssimos, vamos mergulhar na loucura que me vai à alma...